Pontapé primeiro

O que será de nós?

Como é bom solfejar nas flautas encantadas de todo dia. Como é bom comentar tudo como expectador quando faço parte desta multidão objeto e vítima. Mas é melhor deixar este trololó pra depois, e alguns falatórios para outra hora.

Não é bom começar o ano pensando em coisas ruins nem em agouros quaternários. Mas é propício perguntar: o que será de nós?

O que será de nós? O que será de nós, agora que estamos órfãos? O pai da nação, o grande sábio dos botequins bolcheviques, o socialista barbado, de membros superiores incompletos aposentou seu fardão de comandante da nação abrindo uma lacuna na história do país. Fechou o ano com chaves sólidas, ainda que não de ouro, coroando um período de oito anos de feitos visionários populares e realizações efetivas, como manda a velha cartilha dos líderes populistas, que preferem possuir imagens a caráter.

O que será de nós, agora que não teremos mais truques populistas, não mais vendo a arte do improviso e do convencimento pela inflamada oratória? O que será de nós agora que a saúde não mais será jogada para escanteio e tratada com desdém?

O que será de nós, agora que não teremos mais dinheiro nas cuecas dos aliados, nas malas dos mensaleiros que circulavam pelos corredores do Congresso, de tantos Severinos, Francenildos e Dirceus?

O que será de nós, agora que não mais teremos descasos em crises rodoviárias e aéreas, sem a presença de uma ministra que nos peça para relaxar e gozar quando um avião explode poucos minutos depois do pouso?

O que será de nós, agora que não teremos mais um filho privilegiado pelas benesses do pai presidente, que não mais subestimaremos crises econômicas e nem tampouco teremos a maior taxa de juros reais do mundo?

O que será de nós, agora que não mais nos iludiremos pelos péssimos índices de educação, pela nova crise que se avizinha pela confiança na marolinha, pela falta de valores e defesa da família?

O que será de nós, míseros mortais brasileiros, neste momento em que a seda verde e amarela repousa em ombros femininos?

Pobre ilusão se pensarmos que poderemos contar com a inovação das boas ideias femininas, da força de braços delicados, mas esforçados, e que a inovação do ineditismo do gênero presidencial mude alguma coisa.

A criatura tem tudo de seu criador. Formou um ministério conforme os apontamentos do guru, criou um estilo de ser segundo as indicações do mestre; seguirá os mesmos passos do ex-presidente. Falta-lhe apenas a barba e sobra-lhe um dedo. Diante deste panorama novo, com gosto de mais do mesmo, eu me pergunto: o que será de nós?

Não sou um pessimista nato, pelo contrário, nutro grande otimismo, como também não enxergo somente os deslizes e erros do governo passado. Aguardo ansiosamente por um bom governo feminino, para que os sucessos do antecessor sejam ampliados e na ética, justiça e honestidade os erros sejam corrigidos.

Dilma Consola-me e alegra-me fato de termos em nosso país um elemento ímpar: a democracia, e por este meio tenho esperanças, embora ainda crescentes, quando vejo empossada uma mulher que fora vítima das monstruosidades do obscuro período ditatorial brasileiro, pois provara outrora as terríveis consequências da falta da mesma democracia. Porém...

Ainda não sei o que será de nós como é impossível prever o futuro em qualquer ocasião. Mas é certo que torço pela presidente eleita, embora realize uma oposição consciente, para que seus olhos se abram as reais misérias do país, e veja a necessidade da primazia dos valores tradicionais ao invés da conquista de votos.

O que será de nós? Seremos no mínimo tolos se não mudarmos a história, não permitindo que os tantos erros destes oito anos se repitam nos próximos quatro, pois não é fácil o discípulo não se parecer com o mestre.

Mas enquanto isso volto à limonada do cotidiano, oferecendo um brinde aos boêmios e insatisfeitos, aguardando o açúcar que estiver no fundo do copo.

Comentários

Mais uma vez parabéns pela sua forma bem humorada de abordar um assunto de grande peso para nossa Nação. Adorei a seguinte parte: "O pai da nação, o grande sábio dos botequins bolcheviques, o socialista barbado, de membros superiores...”.

Abraços.

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