O Kadafi que o futuro aguarda

A guerra que há de vir

A moeda com a efige de César foi lançada ao ar pelas mãos de um juiz qualquer. A arquibancada que circunda o espetáculo aguarda, com olhos vidrados e cansados o cair do metal e assim a quem será concedido o direito do pontapé inicial. Espera-se também, para mais adiante, o resultado do enfrentamento que todos já sentenciam, é previsível.

Na realidade, tudo parece mais uma representação de joguetes passados, contudo, deflagará muito mais perdas que ganhos, na realidade sensível, tocante, em almas e em mãos que escolheram o direito de não apostar ficha alguma neste jogo irracionalmente sanguinário. E serã estas mãos, as mais limpas e suplicantes, as primeiras a serem ceifadas, decepadas.

E a crônica, repetir-se-á mais uma vez. Com os mesmos gritos, com os mesmos apelos, com as mesmas vozes, consonantes e dissonantes: as mesmas palavras. Os mesmos corações, se eles existem.

O ditador da vez não é Hussein, mundialmente enforcado anos atrás, mas Kadafi (com tantas alternativas, adoto a escrita mais simples). O retalho de terra a ser rasgado não é o Iraque, mas a Líbia. E nele, muitíssimos poços de petróleo.

Embora a bandeira da democracia seja levantada pela queda do opressor regime ditatorial kadafiano, há detrás de tudo isso o ouro negro: a Líbia é membro da Organização dos Paises Exploradores de Petróleo; é o 11° maior exportador mundial (à frente do Iraque), além de possuir (atente-se a esse número) a 8ª maior reserva do planeta, muito à frente dos Estados Unidos, China e Brasil, com uma estimativa de aproximadamente 42 bilhões de barris.

Não pode existir mente ingênua que pense talvez ser verdadeiro o interesse de França, Inglaterra, e agora os Estados Unidos em intervir militarmente na Líbia somente para colocar ordem no caos e libertar o povo da opressão ditatorial. Se tudo ocorrer como indica o horizonte escuro das nuvens bélicas, há de explodir num futuro não tão distante mais uma guerra, desta vez no norte da África, tornando todo o Mediterrâneo vulnerável, tendo o petróleo e milhões de dólares envolvidos.

Outro elemento a deixar o mundo em alerta atende por Israel. Em 2009, Kadafi convocou os árabes de todo o mundo a combater Israel, voluntariamente ao lado dos palestinos. "Devemos fechar definitivamente esta porta e boicotar novamente [Israel], porque é o inimigo" - foi a frase do presidente-ditador. O que podemos esperar deste senhor, marcado pelas cirurgias plásticas que jamais escondem a demoníaca face do sanguinarismo humano da sede de poder, que mata inocentes para mostrar o poderío?

Se uma intervenção militar realmente vier a acontecer - a ONU já deu carta branca e forças militares americanas estão mobilizadas no Mediterrâneo - o problema Israel x Palestina não passará incólume. Ou seja, mais sangue regará o solo.

Ainda que a belicosidade seja grande, não há porque (assim espero) esse conflito se alastrar passando a fomentar uma Terceira Guerra Mundial como muitos profetizam. Há de ser realmente uma guerra, com maiores proporções que a do Iraque, pois a Líbia tem no poder um ditador que está disposto a tudo, diferentemente de Hussein em 2003, contudo, "apenas" continental.

Os problemas serão os mesmos se as medidas a partir de agora não forem as mais pacíficas possíveis. Os tempos estão mudando. Pode-se também mudar as mentalidades de toda uma geração. Mas se Kadafi assim não quer, assim ele não terá. Sofrerá a derrota militar - ou alguém espera que a coalisão França, Inglaterra, EUA e Israel saiam "vietnamizados" desta guerra? Novamente a história vai se repetindo, pela tolice humana, pela sede do poder, pela loucura da posse, pelo extermínio do dinheito.

A moeda está ainda no ar, prestes a cair na mão de um juiz qualquer. Todos querem ver de qual lado estará o rosto do augusto imperador coroado de louros. Mas terão de esperar alguns instantes a mais até que as manchas de petróleo desobstruam a nossa visão e passem a jorrar pelo chão, misturadas com a escarlate marca do sangue de inocentes.

Comentários

Antônio Netto disse…
Será que a guerra na Líbia vao durar muito? Vc poderia atualizar sempre seu blog com essas notícias

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