Sobre a Igreja
O Blog Diálogo Vivo recebeu na última semana uma colaboração muito especial: o Fr. Bruno Áthila, SAC (Graduado em Filosofia e acadêmico do 4° ano de Teologia), sabendo que este é um blog católico engajado na luta pelo bem, enviou-nos um artigo de sua autoria. No respeito a todas as opiniões, alegramo-nos com esta cooperação e que seja frutuosa para todos nós!
Por uma verdadeira participação
Depois do Concílio Vaticano II (11/10/1962 a 07/12/1965) falou-se muito em “participação”. Poderíamos até dizer que as mudanças ocorridas no rito da Santa Missa foram motivadas por esta palavra. Foi em vista de uma “eficaz” e “frutuosa” participação que o sacerdote passa a “presidir” a missa de frente para o povo (versus populi) e a liturgia passa a ser em língua vernácula para que o povo pudesse entender e participar ativamente. A partir disso, a missa perde um tanto de seu caráter de culto privado e assume um espírito mais comunitário e festivo.
Mas a missa não perdeu o seu tom de sobrietas (sobriedade), simplicidade e silêncio. Participação no pensar do Concílio nunca foi espetáculo e “show”. Muitos pensaram/pensam que participar é como se estivesse num auditório e o sacerdote fosse o animador. Esta nunca foi a intenção do Concílio. A missa deveria conservar sua simplicidade e estabilidade ritual como certa vez recordou o então Cardeal Ratzinger, hoje nosso papa Bento XVI: “a missa é uma repetição solene”. A participação nesse sentido deveria ser mais do interior para o exterior; a mais frutuosa é aquela em que o fiel sente-se interiormente unido ao Mistério que está sendo celebrado.
Vivemos no tempo do sensacional, emocional, afetivo. Todas estas dimensões do homem são exploradas e estimuladas pelos meios de comunicação. E muitas vezes a tendência é achar que na missa a dimensão mais importante a ser experienciada é a das sensações. A dimensão dos sentidos deve fazer parte, mas ela não é a principal. Na celebração da missa entramos na dimensão do mistério, transcendemos entrando no mistério. Se tornarmos a celebração eucarística um espetáculo de sensações, a nossa eucaristia não pode criar atitudes, não gera conversão, não transforma a realidade de pecado e morte em realidade de vida e graça.
Para melhorar os abusos que se comentem em nome da “participação” precisamos ser objetivos, diretos, apresentando-se o sentido real e teológico da celebração dos mistérios de Cristo. Pode até ser dolorido, mas os excessos precisam ser evitados, para que prevaleça o sentido verdadeiro da renovação conciliar: uma “plena, consciente e ativa participação”, sem se esquecer da simplicidade (sobrietas) solene de nossa liturgia latina (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 14). Os padres que celebram grandes missas, onde há uma grande afluência de pessoas, poderiam combinar: participação animada e entusiasmada com momentos de silêncio e interiorização, “degustação” de cada momento do mistério eucarístico; as pessoas cada vez mais estão perdendo o gosto pelas coisas belas e simples e tudo tende a se transformar em pomposo, glamoroso, chegando-se ao inevitavelmente “ridículo”.
Parece, às vezes, que estamos dando “murro em ponta de faca” e que vai continuar por um bom tempo, cada um seguindo seu próprio modo de celebrar e não o da Igreja, apresentado no ritual. Mas vale a pena se investir numa formação litúrgica séria, especialmente dos seminaristas e dos agentes de pastoral de nossas comunidades. Os seminaristas precisam aprender que irão um dia presidir a Santa Eucaristia, não em nome próprio, mas in persona Christi e em nome de Cristo. Portanto, Cristo é o Presidente por antonomásia, da celebração. Ele deve ser o centro. Só Ele pode brilhar na frugalidade do rito de sua Igreja. Pois como primorosamente nos lembra o Cardeal Godfried Danneels, a liturgia nos supera: eu entro na liturgia, não posso criá-la. “Entramos nela nos dirigindo a Deus para acolhê-lo. A celebração é feita essencialmente ouvindo, acolhendo e obedecendo. Ela não é uma palavra humana, mas uma resposta humana à palavra de Deus.” A liturgia, conclui, é obra de um Outro, na casa da liturgia sou um hóspede.
Não há muito o que refletir quanto a este aspecto da liturgia. Só precisamos fazer acontecer o que já nos foi dado no Concílio. E se há os que participam melhor no Rito pré-conciliar, precisam ser respeitados. Afinal temos uma riqueza sem conta de ritos na Igreja Romana. O Rito Tridentino não foi extinto, e se alguns fieis gostam deste rito e nele celebram melhor: que sejam respeitados, ouvidos e atendidos. Outros, porém, vão preferir o Rito pós-conciliar ou de Paulo VI, que sejam também incentivadas, catequizadas para celebrarem cada vez mais com um sentido de mistério e um coração tomado de amor pela simplicidade de Deus.
Fr. Bruno Áthila, SAC
brunoniscart@hotmail.com
Curitiba, quaresma de 2011
Comentários
Abraço
Silvana