Quem tem medo do pensamento conservador?

Um dos indícios da crise social brasileira pode ser encontrado na semântica. Ela é a primeira vítima da banalização da cultura e do debate político. Isso pode ser percebido quando as palavras começam a ter sentido completamente diferente do que querem dizer, ou são utilizadas em contextos estranhos aos que surgiram. São atribuídos novos significados a certas palavras para que elas possam ser mais defensáveis, ou o contrário.
Um destes termos vítima da degradação é “conservador”. Hoje é utilizado quase que como um xingamento, sendo sinônimo de preconceituoso, defensor do status quo, que cheira a mofo. Então, o que seria um conservador? O pensamento conservador é, antes de tudo, uma saudável dúvida sobre aquilo que deve ser mudado em contraposição ao que necessita ser preservado. É a crença na existência de valores basilares, uma lei moral, para a sobrevivência de qualquer comunidade.
Mas de onde vem esta lei moral? O conservador acredita na existência da natureza humana, própria da espécie e que não se muda. Tal fato leva a um direito natural, um conjunto de normas que, independentemente dos desdobramentos históricos, deve ser obedecido para que a natureza humana tenha condições se realizar plenamente. Assim, a crença na lei natural afasta qualquer defesa de relativismo moral, de que normas podem ser mutáveis dependendo da época e da sociedade, caindo em uma negociação moral.
Ou seja: a lei natural reconhece critérios concretos para definir o que é certo e o que é errado. O famoso escritor das “Crônicas de Nárnia”, C. S. Lewis, soube exemplificar muito bem o pensamento conservador: aquele que não duvida que 1+1=2, nem que 2x2=4; as pessoas algumas vezes podem errar no cálculo, como podem se enganar no certo e no errado, mas a existência de ambos não depende de gostos pessoais ou de opiniões alheias, da mesma forma que um cálculo errado não invalida a tabuada.
O conservador não é um egoísta ou um estúpido, como preferem os esquerdistas e liberais, mas pelo contrário, é uma pessoa que crê que existe algo em nossa vida que vale a pena salvar; é aquele que deseja conservar os elementos da civilização que tornam a vida digna de ser vivida. É ter consciência de que as coisas admiráveis podem ser facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas. Como lembrava Newton, somos como que anões nos ombros de gigantes: o passado é um depósito de sabedoria que nos transmite um complexo corpo de conhecimento. É a chamada “democracia dos mortos”: considerar a tradição moral que nos precedeu bem como as opiniões dos sábios que morreram antes de nosso tempo.
Os conservadores acreditam que a natureza humana não é perfeita. Sendo o homem imperfeito, nenhuma ordem social perfeita poderá ser criada, por isso buscar a utopia é sempre terminar em um desastre, pois o ser humano não é capaz de construir a perfeição. O que o homem pode fazer, a partir da prudência e das verdades morais permanentes, é buscar uma sociedade que seja ordenada, justa e livre. E isso faz com que o conservador se posicione claramente sobre alguns pontos práticos da vida cotidiana, por exemplo: contra a legalização das drogas; a favor da educação dos filhos em casa; contra o aborto em qualquer fase da gestação; a favor da família tradicional como base da sociedade, acreditando que seu desmantelamento provoca efeitos muitíssimos danosos; etc.

Tudo o que vale a pena ser conservado está ameaçado em nossa geração. O conservador vive para defender grandes fins: a dignidade, a personalidade e a felicidade humana e o relacionamento entre o homem e Deus. O coletivismo radical de nossa época detesta a fé religiosa, a virtude de cada homem, a autoridade da tradição, a individualidade e a liberdade, e tudo faz para destruí-los. E é simples saber por qual motivo detesta o conservador: pois o teme. 

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